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O NASCIMENTO DE JESUS SEGUNDO MARIA VALTORTA

 

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Belo texto de Maria Valtorta, mística italiana, atribuído a revelações privadas. Sem que queiramos tomar posição a respeito de sua autenticidade, apresentamos como leitura que pode ser edificante.

Vejo ainda o interior deste pobre refúgio pedregoso, onde, compartilhando a sorte dos animais, Maria e José encontraram asilo.
A pequena fogueira vai-se apagando, tal como vai adormecendo o seu guardião.

Maria levanta docemente a cabeça da almofada e olha. Ela vê José, com a cabeça inclinada sobre o peito, como se refletisse, e pensa que a fadiga triunfou sobre a sua vontade de permanecer acordado. Ela age com um grato e doce sorriso.

Fazendo menos barulho do que o que poderia ser feito por uma borboleta pousando numa rosa, ela senta-se e depois ajoelha-se. Reza com um sorriso radioso no seu rosto. Reza com os braços estendidos – não precisamente em cruz, mas quase -, com as palmas das mãos dirigidas para o alto e para a frente, não parecendo fatigada com esta dolorosa postura. Depois, prostra-se com o rosto sobre o feno, ainda numa oração mais profunda. Uma oração prolongada.

José acorda. Ele vê o fogo quase a apagar-se e o estábulo mergulhado na escuridão. Lança um punhado de ramitos e as chamas revitalizam-se. Então ele junta ramos mais grossos, depois ainda mais volumosos, que o frio deve ser intenso, o frio da noite invernosa e tranquila que penetra por várias partes dessas ruínas.

O pobre José, muito perto que está da porta – chamemos assim à abertura que o seu manto procura tapar -, deve estar gelado. Aproxima as mãos das chamas, descalça as sandálias e aquece-se. Quando o lume está bem ateado e a sua claridade é boa, volta-se. Não vê ninguém, nem mesmo a brancura do véu de Maria, que traçava uma linha clara sobre o fundo escuro. Levanta-se e lentamente aproxima-se da encherga.

Maria levanta a cabeça, como chamada pelo Céu, e ajoelha-se novamente. Oh, como isto é maravilhoso! Ela levanta a cabeça, que parece resplandecer com a luz branca da Lua, e é transfigurada com um sorriso angélico. Que é que ela vê? Quem é que ela espera? Que é que ela sente? Só ela poderia dizer aquilo que vê, entende e sente, na hora fulgurante da sua Maternidade.

Dou-me somente conta que à volta dela a luz cresce, cresce, cresce. Dir-se-ia que essa luz desce do Céu, que ela emana das pobres coisas que a rodeiam, que ela emana sobretudo dela própria. O seu vestido, de azul carregado, tem presentemente a cor dum azul de doçura celestial, de miosotis; as mãos e a cara parecem azuladas, como se estivessem debaixo do fogo de uma imensa e clara safira. Esta cor lembra-me, embora mais ligeiramente, aquela que observei no santo Paraíso, e também a da visão da chegada dos Magos. Ela difunde-se cada vez mais sobre as coisas e revela-as, purifica-as, comunicando-lhes o seu esplendor.

A luz desprende-se cada vez mais do corpo de Maria, absorve a luz da Lua, e dir-se-ia que atrai sobre ela tudo o que pode descer do Céu. Apesar disso, é ela que é depositária da Luz, aquela que gera a própria Luz ao Mundo. E esta radiosa, irresistível, imensa e eterna Luz Divina, que vai ser dada ao Mundo, anuncia-se como uma alvorada, um esplendor de luz, um coração de átomos luminosos que crescem, que rebentam como uma maré que sobe em ondas e desce em torrentes, desenrolando-se como uma vela.

Cada pedra é um bloco de prata, cada fissura uma claridade opalina, cada teia de aranha um brocado de prata e diamantes. Um lagarto gordo, entre dois blocos de pedra, parece um colar de esmeraldas esquecido por uma rainha; um cacho de morcegos gordinhos assemelha-se à preciosa claridade do ónix.

Do feno que pende da manjedoura, a parte mais alta já não é erva, são fios de prata pura e ondulam com a graça dos cabelos flutuando ao vento. A manjedoura inferior, em madeira grosseira, tornou-se um bloco de prata fulgurante. As paredes estão cobertas de um brocado, onde a brancura da seda desaparece debaixo dum bordado de pérolas em relevo. E o chão… o que é agora o chão? Um cristal iluminado por uma luz branca. As pedras parecem rosas luminosas, lançadas sobre o chão em sinal de homenagem; e os buracos, preciosas taças, donde se desprendem aromas e perfumes.

A luminosidade cresce cada vez mais e os meus olhos não a podem suportar. Nela, como absorvida por um véu de luz incandescente, desaparece a Virgem… e daí emerge a Mãe. Sim, quando a luz se torna suportável para os meus olhos, eu vejo Maria já com o seu encantador Filhinho nos braços!

José – que estava extasiado, rezava com tanta intensidade que se tinha abstraído de tudo o que o rodeava – estremeceu e, por entre os seus dedos com os quais tapava a cara, nota a filtragem duma luz desconhecida. Descobre o rosto, levanta a cabeça e volta-se. O boi de pé esconde Maria, mas ela chama-o carinhosamente: “José, vem”.

José apressa-se, mas perante aquele maravilhoso espectáculo, pára, mas logo, como que acometido de profunda reverência, vai prostrar-se de joelhos diante do Menino ao colo de Maria.

Depois, Maria inclina-se e diz-lhe: “Toma, José”. E ela oferece-lhe a Criancinha.

“Eu? A mim? Oh, não! Eu não sou digno!” José está trémulo e hesitante com a ideia de tocar no Deus Menino.

E Maria insiste, sorrindo: “Tu és muito digno. Ninguém o é mais que tu. É por isso que Deus te escolheu. “Toma-O, José, e segura-O enquanto eu procuro as faixas”.

José, com muita delicadeza e reverência, estende os braços e agarra no Pequenino rechonchudo, que chora porque tem frio. Quando ele O tem nos braços, não insiste na intenção de O afastar de si devido ao respeito. Aperta-O contra o seu coração e desabafa, dizendo: “Oh, Senhor! Meu Deus!” E inclina-se para beijar os seus pezinhos, mas sente-os gelados.

José pega num grosso manto feito de lã azul, prepara-o e coloca-o na manjedoura. A primeira cama do Salvador está pronta. E a Mãe, com o seu cuidadoso andar, leva-O e coloca-O na manjedoura, cobrindo-O com o manto, que ela coloca também em volta da cabecinha nua aconchegada ao feno.

Só fica a descoberto o pequenino rosto, do tamanho de um punho, e os santos Esposos, extasiados e radiantes, admiram o primeiro sono de Deus Menino. O calor das lãs e do feno pararam o choro e trouxeram o sono ao doce Jesus…

Nota: Maria Valtorta foi uma mística italiana, falecida em 1961.
Você pode ver maiores Ali se diz que nasceu em Caserta no dia 14 de março de 1897, filha única de um Oficial da Cavalaria e de uma ex-professora de francês, ambos lombardos.
Criou e formou-se em várias cidades do norte (Faenza, Milão, Voghera) mostrando um caráter forte, ressaltados a capacidade humana e extraordinários dotes espirituais.
Completou os seus estudos no prestigioso Colégio Bianconi de Monza.
Durante a 1a. guerra mundial foi enfermeira “samaritana” no Hospital Militar de Florença, cidade em que morou por muito tempo e onde foi marcada pelas provas mais duras, provocadas pela terrível mãe, que por duas vezes infringiu um seu legítimo sonho de amor, e por um subversivo, que pela rua lhe desferiu uma paulada nos rins.
Recobrou-se, em parte, com umas férias de dois anos em Reggio Calábria, junto a parentes ricos e dedicados.
Em 1924 estabelecia-se com os pais em Viareggio, onde aplicou-se, na Paróquia, como delegada da cultura para os jovens de Ação Católica.
No entanto, os seus sofrimentos aumentavam e a sua ascensão culminava em heróicas ofertas de si por amor a Deus e à humanidade.
A sua verdadeira missão, aquela de escritora mística, amadureceu e desdobrou-se nos anos centrais da sua longa enfermidade, que a obrigou a estar de cama desde 1934 até à sua morte, ocorrida em Viareggio no dia 12 de outubro de 1961. Em 1943 [época em que foi tirada a foto ao lado], enferma há nove anos, Maria Valtorta aderiu a um pedido do confessor e escreveu a sua Autobiografia.
Revelando o seu talento de escritora, preencheu, em um lance, sete cadernos para narrar sem reticências a própria vida, humana até à passionalidade, ascética até ao heroísmo.
Logo em seguida dava início a uma produção literária prodigiosa.
A maior obra de Maria Valtorta, publicada em 10 volumes, é “O Evangelho como me foi revelado”.
Estando sentada no leito, Maria Valtorta escrevia de seu punho em cadernos comuns, de um lance, sem preparar esquemas nem corrigir. Freqüentemente alternava a versão dos episódios da obra maior com aquela de outros argumentos, que teriam depois dado corpo às obras menores.
Estas últimas foram publicadas – além do volume da Autobiografia – em cinco volumes: – três volumes de miscelânia intitulados Os cadernos (respectivamente dos anos de 1943, 1944, 1945-50); – o volume intitulado Livro de Azaria;
– o volume das Lições sobre a Epístola de Paulo aos Romanos.